terça-feira, novembro 18, 2014

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9 Níveis de submissãoPDFVersão para impressãoEnviar por E-mail
Escrito por MestreSade   
Segunda, 24 Outubro 2011 14:45
Em 1988 publicou-se no “Lesbian S/M Safety Manual” um artigo escrito por Diane Vera onde esta definia nove níveis de submissão. A antiguidade do texto original vem provar que não é de agora que no BDSM ou especialmente em D/s, diversas pessoas usavam termos como “submisso” ou “escravo” para definir coisas muito diferentes.
Faço aqui uma adaptação livre que prefiro agrupar em i) kinky players, ii) submissos e iii) escravos. Agrupar nestas três categorias parece uma forma mais clara de dividir estes nove níveis. Já as sub-categorias são dotadas de nuances interessantes, mas é nas categorias de kinky player, submissos e escravos que deve ser dada a maior atenção.
Apesar desta lista de conceitos não ser rígida, é um referencial interessante. Permite por um lado, reflectir sobre qual o tipo de perfil com que o “bottom” ou o “Top” se identifica. Por outro lado, ao se falar genericamente em Kinky Player, submisso ou escravo evitam-se mal-entendidos com os paradigmas baseados no desconhecimento de alguns conceitos elementares.

i) KINKY PLAYERS  
O “bottom” procura emoções que estão pouco além do alto erotismo. São jogos com alguma dor ou pseudo-submissão. Mas a dita submissão é essencialmente “role-play”. O “bottom” define, sugere ou aceita a estrutura ou conteúdo da sessão. São portanto jogos BDSM em que não existe realmente uma componente D/s (Dominação/submissão). O que existirá, no máximo, é um “role-play” D/s. (role-play, leia-se fazer de conta) 
Podemos agrupar como Kinky Players os seguintes 3 níveis com ordem crescente de (pseudo-)“submissão”. 

1) JOGOS ERÓTICOS KINKY OU MASOQUISTAS MAS SEM SUBMISSÃO 
Não lhe apela servir, ser humilhado ou abdicar do controle. Apenas procura alguma dor e/ou erotismo atrevido, segundo os requisitos do masoquista e tendo como fim o prazer único do masoquista. Ou seja, apenas lhe excita as sensações no seu próprio corpo, em vez de ser “usado” para agradar ao sadismo do parceiro. 

2) PSEUDO-SUBMISSO SEM ROLE-PLAY DE ESCRAVO 
Não tem prazer em desempenhar um papel de “escravo” mas agradam-lhe outros papéis de submissão em “role-play”. Por exemplo Professor/aluno, Infantilismo ou até mesmo ser obrigado a transvestir-se. Eventualmente aprecia jogos de humilhação. Mas não aceita submeter-se ou servir, nem mesmo em “role-play”. Define a maioria do conteúdo de uma sessão.

3) PSEUDO-SUBMISSO, ESCRAVO ROLE-PLAY 
Gosta de jogos eróticos em que faz de conta que é escravo. Gosta de se sentir subserviente. Pode em certos casos até gostar de sentir que está a ser “usado” para satisfazer o sadismo do parceiro. Pode inclusive servir o Dominante em algumas formas, mas apenas segundo as condições do próprio “escravo” ou “servo”. Define a maioria das características da sessão, mas frequentemente são sessões de fetichismo, como por exemplo podolatria.   

ii) SUBMISSOS
O “bottom” é claramente submisso ou gosta de assumir papéis claramente submissos. Aqui já observamos uma alteração do enfoque relativamente a obter prazer ou em dar prazer a outrem, pelo que centrará crescentemente os jogos mais no parceiro que em si próprio. Mas tem limites claramente definidos, seja no tipo de jogos a que se sujeita ou na quantidade de tempo que dedica a servir o parceiro. Portanto, o submisso sente prazer em submeter-se temporariamente, quando lhe apetece e em tarefas maioritariamente erotizadas ou sexuais mas essencialmente num contexto de role-play. 
Vejamos mais três níveis, agora de submissão, mas não de escravidão. 

4) VERDADEIRAMETNE SUBMISSO SEM ROLE-PLAY DE ESCRAVO 
Abdica totalmente do controlo (apenas temporariamente, ou em sessão e segundo limites pré-definidos). Mas ainda obtém prazer, mais pelo facto de se submeter, do que por servir ou ser usado pelo Dominador. É frequentemente excitado pelo suspense, vulnerabilidade ou mesmo por abdicar da responsabilidade. Não define a sessão excepto em termos muito gerais. Porém ainda obtém o prazer directamente (em detrimento de obter prazer indirectamente pela satisfação do Dominante). 

5) VERDADEIRAMENTE SUBMISSO, ESCRAVO ROLE-PLAY 
Abdica totalmente do controlo (ainda que apenas temporariamente, durante algumas “sessões” com limites definidos). Satisfaz-se principalmente em servir ou ser usado pelo Dominante, mas apenas para prazer, usualmente erotismo. Pode não apreciar dor. Mas se for o caso, satisfaz-se indirectamente, ou seja aprecia ser o objecto do sadismo do parceiro, onde o submisso apresenta poucas exigências ou restrições.

6) SEMI-ESCRAVO (descomprometido) 
Abdica totalmente do controlo (normalmente ainda com limites). Deseja servir e ser usado pelo Dominante. Deseja servir tanto em tarefas não eróticas, como em serviços sexuais e eróticos, mas apenas quando o escravo está com disposição para tal. Pode inclusive desempenhar um papel de escravo a tempo inteiro (24/24(1) horas) durante vários dias, mas é livre de desistir a qualquer momento (ou no final do prazo estabelecido). Poderá ou não ter uma relação de compromisso com o Dominador mas independentemente disso, é o “escravo” que tem a ultima palavra relativamente a quando pode e quer servir. 

iii) ESCRAVOS
Aqui observamos claramente a distinção entre submisso e escravo. O submisso tem sempre uma palavra a dizer sobre quando servir e, eventualmente, em que termos. Mas para os mais puritanos que considerem chocantes estas relações, relembro o exemplo de algumas relações matrimoniais baunilha, em que a esposa submissa rende-se a todas as ordens e caprichos do marido, sendo-lhe ainda totalmente submissa sexualmente. A verdade é que há muito mais relações de submissão fora do meio BDSM que dentro, por isso será escusada a surpresa na definição destes níveis de entrega consensuais. 
Observarão que nos títulos dos próximos níveis insisto no termo “consensual”, para sublinhar que esta classificação apenas faz sentido nestas condições de São Seguro e Consensual (SSC) apesar de ser muito debatida a sanidade de algumas entregas absolutas. Também a definição de escravo acaba por ser muito mais simples e sucinta. Frequentemente as relações de Dono/escravo também são apelidadas de TPE (Total Power Exchange) que “significa delegação absoluta de poder” dado que o submisso se entrega totalmente ao seu Dominador, tendo este poder para decidir tudo na vida pessoal do submisso. E poder absoluto, não implica a perda do senso comum. Para os que considerarem este tipo de relação ficcional, basta apontar alguns exemplos de TPE muito pragmáticos, como por exemplo o papel de um pai com os filhos, em que frequentemente até numa fase adulta mantém poder absoluto sobre estes. Não será de chocar que algumas pessoas fantasiem uma relação deste tipo, nem de concluir que sejam meramente ficcionais.

7) ESCRAVO CONSENSUAL EM PART TIME 
Está comprometido(2) numa relação Dono/escravo e considera-se propriedade do Dominante a tempo inteiro. Deseja obedecer e agradar ao Dominante em todo tipo de tarefas, sejam utilitárias (não eróticas) ou prazer(eróticas). Dedica a maioria do seu tempo a outros compromissos (por exemplo emprego ou estudos) e pode nem residir com o Dominador, mas este exerce direito de opção sobre o tempo livre do escravo. Isto significa que se o escravo tem um fim-de-semana ou tempo livre, é o Dominante quem tem autoridade e decide sobre esse tempo, mesmo que deseje controlar essa liberdade de movimentos.

8) ESCRAVO CONSENSUAL A TEMPO INTEIRO(3) 
Reside com o Dominador tendo pouco mais que alguns limites ou condições. O escravo considera que existe exclusivamente para o prazer e satisfação do Dominador. Em contrapartida, o escravo anseia ser considerado um bem precioso. Não é muito diferente da situação de algumas donas de casa tradicionais, com a diferença que em BDSM é mais provável que a situação do escravo seja totalmente consensual (principalmente se o escravo for masculino). No BDSM, uma relação a tempo inteiro com um escravo é precedido de um consentimento prévio claro e evidente. É consentido com a clara consciência da magnitude de poder que se abdica, pelo que normalmente se inicia com muita cautela, maior consciência dos possíveis perigos e condições muito mais específicas que as que antecedem um relacionamento baunilha ou um casamento convencional.

9) ESCRAVO CONSENSUAL SEM LIMITES 
Esta é uma fantasia usual. Um conceito ideal que provavelmente não existe sequer na vida real (excepto em seitas religiosas ou outras situações em que o alegado “consentimento” é induzido por manobras psicológicas de lavagem cerebral ou pressões sociais ou económicas, logo não serão totalmente consensuais). Alguns puristas no BDSM consideram que não é verdadeiramente escravo quem não estiver disposto a fazer tudo pelo Dominador, sem qualquer tipo de limites. Apesar de se conhecerem alguns relacionamentos em que se alegam ser escravos sem limites, a experiência leva-nos a duvidar que em bom rigor sejam o que alegam.

(1) Erroneamente alguns casais ou namorados apelidam terem uma relação 24/7 (24 sobre 24 horas, 7dias por semana) apenas porque vivem juntos ou estão comprometidos e fazem regularmente jogos de D/s. Tal leva a confundir-se com a relação definida em 8). Uma relação de direitos iguais como um tradicional casamento, onde esporadicamente se fazem delegações de poder não é uma relação de submissão 24/7 enquanto o submisso ainda se encontra dentro destes pontos 4) 5) e 6). A verdade é que em muitas dessas relações, o parceiro mais dominante na relação é que desempenha o papel submisso nas sessões BDSM e é essa inversão de papeis de poder que lhe dá prazer.
(2) Comprometido, como numa relação tradicional baunilha do tipo namorados ou união de facto, casamento, etc.
(3)Também conhecido como “24/7 TPE”

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